Eis as primeiras impressões das visitas aos grupos de Maracatu. E esse primeiro registro é de Savana Azolini.
Através do Trabalho de Conclusão de Curso e principalmente com o pré-projeto consegui descobrir na teoria, com as pesquisas o que é o Maracatu. Essa cultura começou no século XVII em Pernambuco, através de uma manifestação religiosa que misturava valores tribais do Congo e Angola às tradições Ibéricas. O Maracatu teve origem em Pernambuco, no período da escravidão, a partir de cortejos que encenavam a coroação de reis e rainhas africanas, abrigados pela religião Católica.
Porém, o Maracatu é mais que teoria. É uma cultura viva, e para conhecer tem que participar. O grupo se inscreveu primeiramente no workshop de história do maracatu oferecido pelo grupo Bloco de Pedra e começou a fazer visitas a outros grupos. Percebi que o grupo Bloco de Pedra tem um cunho social muito forte com a comunidade, por oferecer cursos gratuitos de dança e instrumentos. Os ensaios no período vespertino são abertos e se transforma em uma grande festa, quase um evento.
Conhecemos o Baque Sinhá. Um grupo de Maracatu essencialmente formado por mulheres que participam também de apresentações por São Paulo. O único homem é o dançarino que ajuda as meninas na coreografia. O grupo ensaia na Praça do Obelisco no Ibirapuera e dividem espaço com os apitos do time de futebol americano que treinam ao lado e sempre querem mais espaço. Conversando com alguns integrantes podemos perceber que o Maracatu tinha muito em comum com as religiões afro brasileiras e o preconceito era uma dessas semelhanças. Um homem dentro de um carro gritou: Macumbeiros!
E se realmente fosse alguma celebração de Umbanda ou Candomblé? Estamos no Brasil. Nem todos são católicos ou evangélicos. Nem todos são brancos ou negros. Somos miscigenados. Mas aquele homem não sabe o que é macumba. Um dos significados da palavra macumba é um antigo instrumento de percussão africano, parecido com um reco-reco. Aquele homem não sabia o que é macumba e ele nem imaginava que aquilo que estava acontecendo era Maracatu.
Conversando com a Conça, uma das organizadoras do grupo, ela me
contou como é o cotidiano deles e até surgiu uma comparação com escolas de samba.
As escolas de samba são conhecidas, mas elas são patrocinadas, elas disputam um
prêmio e por isso são tão conhecidas na mídia. Sou moradora da Zona Norte de
São Paulo, região que mais possui escolas de samba na cidade, e visitando
algumas (também por curiosidade), percebi que cada um tem uma função e se você
não faz parte daquele grupo, você realmente não faz parte, ao contrário do que
acontece no período do Carnaval. As escolas são mais fechadas nesse
sentido. Os ensaios nos grupos de
Maracatu também acontecem durante o ano inteiro, mas me senti acolhida como se
eles pensassem: alguém está interessada por nós, vamos contar para ela a nossa
história, para que ela fale isso para outras pessoas.
O Ilê Aláfaia são um dos poucos que conservam a tradição do coroamento. O grupo não tem só dançarinos e percursionistas, mas também a Dama do Passo, o Rei e a Rainha. Era meu o interesse em saber da história do grupo, mas o interesse deles era ainda maior em me contar e compartilhar a vivência. Eu perguntei, arrisquei uns passos de dança e participei da percussão por um dia. Toquei a Alfaia, que é um instrumento musical em que o som é obtido através de uma membrana e o volume é determinado pelo tocador, como se fosse um grande tambor tocado por duas baquetas. O grupo teve paciência em me ensinar e eu a vontade de fazer o melhor, mesmo errando muito dos toques.
Maracatu em São Paulo:
as primeiras impressões
Transformar
o Maracatu em um documentário para rádio será um desafio e ao mesmo tempo um
prazer. Desafio em conhecer e entender uma cultura tão tradicional de nosso
país e infelizmente pouco divulgada na grande mídia. Um prazer por me
identificar com essa miscigenação cultural.
Meu
primeiro contato com o Maracatu foi em 2008 por pura curiosidade. Fiquei
sabendo de ensaios do projeto Calo na Mão do grupo Bloco de Pedra que ocorrem
no bairro do Sumaré. As toadas, as vestimentas e a energia das pessoas me
contagiaram. E desde aquele momento procurei saber sobre essa cultura. Desde
esse momento comecei a participar mais como espectadora e percebendo o respeito
que existia em torno do Maracatu.Através do Trabalho de Conclusão de Curso e principalmente com o pré-projeto consegui descobrir na teoria, com as pesquisas o que é o Maracatu. Essa cultura começou no século XVII em Pernambuco, através de uma manifestação religiosa que misturava valores tribais do Congo e Angola às tradições Ibéricas. O Maracatu teve origem em Pernambuco, no período da escravidão, a partir de cortejos que encenavam a coroação de reis e rainhas africanas, abrigados pela religião Católica.
Porém, o Maracatu é mais que teoria. É uma cultura viva, e para conhecer tem que participar. O grupo se inscreveu primeiramente no workshop de história do maracatu oferecido pelo grupo Bloco de Pedra e começou a fazer visitas a outros grupos. Percebi que o grupo Bloco de Pedra tem um cunho social muito forte com a comunidade, por oferecer cursos gratuitos de dança e instrumentos. Os ensaios no período vespertino são abertos e se transforma em uma grande festa, quase um evento.
Conhecemos o Baque Sinhá. Um grupo de Maracatu essencialmente formado por mulheres que participam também de apresentações por São Paulo. O único homem é o dançarino que ajuda as meninas na coreografia. O grupo ensaia na Praça do Obelisco no Ibirapuera e dividem espaço com os apitos do time de futebol americano que treinam ao lado e sempre querem mais espaço. Conversando com alguns integrantes podemos perceber que o Maracatu tinha muito em comum com as religiões afro brasileiras e o preconceito era uma dessas semelhanças. Um homem dentro de um carro gritou: Macumbeiros!
E se realmente fosse alguma celebração de Umbanda ou Candomblé? Estamos no Brasil. Nem todos são católicos ou evangélicos. Nem todos são brancos ou negros. Somos miscigenados. Mas aquele homem não sabe o que é macumba. Um dos significados da palavra macumba é um antigo instrumento de percussão africano, parecido com um reco-reco. Aquele homem não sabia o que é macumba e ele nem imaginava que aquilo que estava acontecendo era Maracatu.
Com o grupo de Maracatu Ilê Aláfia, no bairro do Jabaquara eu me
senti realmente na raiz da cultura. Não parece que estamos em um projeto
educativo de São Paulo. Me imaginei no Congo ou em alguma vila de Pernambuco.
Ali acontece a verdadeira mistura brasileira. O Ilê Aláfia é um grupo mais rígido
em comparado com o Bloco de Pedra. Quem tem interesse na cultura é muito bem
vindo, mas para participar é necessário muito mais que vontade, mas participar
ativamente dos ensaios e atividades do grupo. O grupo é muito organizado e
unido, e talvez, esse seja o motivo de participarem de tantas atividades e de
serem tão respeitados por outros grupos de São Paulo e Pernambuco. É uma grande
família unida pela cultura.
O Ilê Aláfaia são um dos poucos que conservam a tradição do coroamento. O grupo não tem só dançarinos e percursionistas, mas também a Dama do Passo, o Rei e a Rainha. Era meu o interesse em saber da história do grupo, mas o interesse deles era ainda maior em me contar e compartilhar a vivência. Eu perguntei, arrisquei uns passos de dança e participei da percussão por um dia. Toquei a Alfaia, que é um instrumento musical em que o som é obtido através de uma membrana e o volume é determinado pelo tocador, como se fosse um grande tambor tocado por duas baquetas. O grupo teve paciência em me ensinar e eu a vontade de fazer o melhor, mesmo errando muito dos toques.
A primeira impressão do grupo Cia Caracaxá foi um pouco diferente
do Bloco de Pedra, Baque Sinhá e Ilê Aláfia. O grupo ensaia próximo a Escola de
Comunicação e Artes da USP, no Bairro do Butantã, todas a quinta-feira a noite.
Um local difícil de encontrar, não tanto pela localização, mas pela falta de
informação de quem trabalha e estuda na região. A maioria das pessoas não
conhece a existência de um grupo de Maracatu na USP. Combinamos via email a
nossa visita e avistamos a presença de pessoas de outros grupos no ensaio. O
ensaio é descontraído e o mestre reclama muito dos erros do grupo. Depois da
visita, pude analisar a diferença entre os grupos de Maracatu. O que são mais
grupos, que compartilham dessa cultura e os que também são grupos de Maracatu,
mas que se destacam apenas pela percussão.
A visita ao grupo de Maracatu Porto de Luanda em Itaquera foi
muito especial, pela história e as atividades que o grupo realiza com os jovens
da religião. Conversarmos muito com um dos organizadores, Silvio Ribeiro, que
nos contou como faz para continuar compartilhando a cultura com outras pessoas.
O grupo é também um dos mais conhecidos e respeitados e percebemos o motivo. Os
participantes fazem questão que os novos visitantes participem das atividades e
conheçam o Maracatu. Novamente me arrisquei na Alfaia. Com a ajuda do Silvio,
tive a oportunidade de conhecer a fundo cada uma das toadas do Maracatu. Depois
da visita fiquei com o pensamento: se eu tivesse mais tempo, se o grupo fosse
mais perto da minha casa eu participaria sempre da percussão. São desculpas que
arranjamos, colocando outras responsabilidades na frente de uma cultura tão
rica e envolvente.
Faltam visitar o Instituto Brincantes na Vila Madalena e o grupo
Mucambos no bairro do Jabaquara. Mas pude perceber na teoria e na prática a
importância do Maracatu para a cultura brasileira e como ela é a identidade do
nosso povo e mais do que perguntar, os grupos querem responder. O Maracatu quer
ser conhecido.
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